A Promessa

    Estreio hoje como colunista do portal MeuBairro. Toda segunda-feira falarei sobre relacionamentos. Quer sugerir uma pauta? Escreva para mim: gabriela@meubairropoa.com




    O cara que você está a fim tem potencial para craque ou não passa de uma promessa?

    Pode ser que você não saiba a escalação completa do time que venceu o último Brasileirão. Ou qual time tenha conquistado o campeonato. Com alguma sorte, recorda o nome de alguns titulares do seu time do coração, fica atenta para aprender detalhes das regras de impedimento e todas essas confusões que explicadas pela boca de um homem mergulhado em boa vontade, ficam mais claras.

    Você pode até não entender lhufas de futebol, mas estará sempre apta a dar a escalação completa dos caras mais interessantes que conheceu – que passaram por sua vida e, dentre os mais sortudos, pela sua cama. No meio desse timão – porque você é exigente embora sem muito fricotes, tem os destaques: do zagueiro com um jogo de corpo incrível àquele meio-campista nota 10 em marcação, passando pelo artilheiro do campeonato – que devido a tamanha destreza e ginga, sabe lidar com o universo feminino como nenhum outro.

    Porém, nem só de proezas vivem o futebol e o amor. Sinto dizer assim na bucha: mas em todo time tem sempre “a promessa”. No futebol, é aquele jogador que tem tudo pra dar um show de bola e potencial suficiente pra fazer o time sair vitorioso. Tem um talento tão absurdo que todos apostam que será escalado para a Seleção! Mas, para a tristeza de milhares de coraçõezinhos femininos sonhadores, no amor – assim como no mundo da bola, o jogo pode desandar e o cara não passar apenas disso: uma promessa.

    Os homens que viram grandes promessas são sim, talentosos por natureza. Fazem lançamentos grandiosos, proporcionando quase um espetáculo. Mas na hora de emplacar aquele golaço, a bola ganha a linha de fundo. Falta preparo. Falta experiência. Falta segurança. Sobra esperança na arquibancada. Talvez por já terem virado assunto preferido da mídia – seus amigos, familiares, conhecidos – que fazem grandes apostas. A expectativa com um boleiro é  grande, e com o cara que está com você também.

    Tem sujeito que independente da idade, do número de partidas jogadas não tem fôlego pra chegar ao final do campeonato. Certos homens sentem-se tão amedrontados de se entregar a uma mulher, de se sentirem frágeis e arrebatados que desistem. Simulam lesão, levantam a mão franzindo a testa e pedem pra sair de campo. Esquecem que podem ser rapidamente substituídos por um craque de verdade.

    Você não escolheu errado, apenas se enganou. E isso acontece com todos nós. Se não tomamos cuidado, acabamos repetindo de forma exaustiva – até virar hábito ou vício, ir substituindo uma promessa por outra, trocando seis por meia dúzia, tapando os buracos abertos no coração, assim como observamos gramados devastados em finais de partidas.

    No fundo, são bons atletas, espertos, inteligentes, habilidosos. Mas chega a ser embaraçoso estar com um cara que tendo tudo para fazer história (uma boa história) cobra um pênalti a la Roberto Baggio no final da Copa de 94. Comete erros tão grotescos e primários com total falta de jeito, técnica e destreza que deixa o resto do time com vergonha. Mandam não só a bola pra galera, como o amor também.

    Para ilustrar e trazer esta história para mais próximo das relações amorosas, é o tipo de sujeito que faz um elogio que acaba saindo pela culatra – o que chamo de elogio às avessas. Ele diz: “Sua pele é linda! Você se maquia por que é insegura?” Como assim, cara pálida? Juro que já aconteceu situação semelhante com amiga minha. Aprenda primeiro que para elogiar, não é preciso diminuir outro detalhe em alguém – e não esqueça: mulheres são astutas, sensíveis e boas de memória. É cada um que aparece! Cartão vermelho mais do que justo. Homem tem que vir com técnica e esquema tático montado pra sair campeão. Tem que vir não só preparado pra jogo, como mostrar que está gostando da partida.

    Desconfio que alguns não saibam o quanto possuem de potencial para serem ótimos – quando, na verdade, beiram o razoável. Tem quem só se dê conta do quão despreparado está quando já terminaram os 90 minutos mediante péssima atuação. É triste testemunhar um talento e vê-lo não passar de promessa. É como já ir se preparando sempre para o pior, contabilizando sucessivos desastres: é a crítica a sua roupa, a vigília permanente ao seu comportamento, os comentários maldosos a respeito dos seus amigos, a má educação e rispidez com você.

    Será mesmo que acha estar ganhando pontos na tabela? Não se dá conta que está entregando o jogo, soterrando o amor, dando brechas para você se interessar por outro cara? Alguém que a trate bem, seja gentil, educado, atencioso, saiba ponderar as situações, que segure a onda do próprio temperamento. No universo das emoções isso é apenas o básico.

    A gente até duvida, eu sei. Mas será possível alguém inteligente ser tão cru emocionalmente? Tão verde que não consiga perceber que talvez esteja precisando de ajuda pra lidar com os próprios sentimentos? Não é todo mundo que vive as emoções de forma saudável. Não é todo mundo que quando ama, sabe cuidar. Vê o quanto isso dá um nó cego bem no meio da nossa fé? Ele teve tudo para dar certo e ser O CARA! “Pelo amor dos meus filhinhos” – diria Silvio Luiz. O que nos resta é lastimar. Muitos amores morrem assim.

    É uma pena que distraído, “a promessa” acabe perdendo subitamente a bola do jogo e deixando espaço livre para que outro assuma seu posto, entrando em campo cheio de fôlego, técnica e vontade de fazer gol, chutando pra longe o fantasma do: quem-sabe-agora-vai. Dali pra conquista do campeonato (e do seu coração) fica fácil. É só invadir a grande área, detectar a fragilidade da zaga e percebê-la louca para correr para o abraço e cair em novos braços. Aliás, muitos amores nascem assim também.

    Publicado originalmente em: http://meubairropoa.com/colunas/a-promessa

    2 comentários:

    1. A analogia funcionou bem para o tema, de verdade.
      É difícil encontrar textos que tenham uma sacada lírica além de um discurso bem embasado e coerente. Você conseguiu isso aqui de um jeito muito pessoal.
      Talvez os homens melhorem sua performance no campeonato da conquista e busquem ser campeões por apenas um time: aquele do amor da vida, sabe?

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    2. Obrigada, Brunno! Gosto muito dos teus comentários e um feedback positivo é claro que sempre me alegra! Que bom que tenha acertado a mão, ou no caso, o pé. :) Quem sabe depois disso, alguns se revelem mais do que simples promessas. Como você disse, queremos campeões! Chega de frustrações. hahaha beijos.

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    Obrigada pelo seu comentário.

     
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