O Homem Ideal


Esqueça os padrões de beleza e de comportamento. Os traços simétricos. O corpo bem definido. Os músculos marcados. O salário polpudo. A distinção nas maneiras. O homem ideal está longe de ser o cara perfeito.
O imaginário feminino é gentil ao traçar o perfil de homem ideal. Porque queremos alguém possível. Desejamos não alguém isento de defeitos, mas um cara de verdade – que caiba em toda a extensão da palavra. Embora gosto se discuta, estereótipos servem apenas para alimentar a ideia equivocada de que as pessoas se repetem em grupos e que permanecem iguais ao longo da vida.
Beleza é importante, mas não é a ela que nos detemos. Também somos seres visuais e apreciamos quem se cuide, gostamos de ombros largos, cobiçamos braços fortes, coxas generosas, uma bunda legal. Mas costumam ser detalhes mais sutis que captam e prendem a nossa atenção: o cabelo desalinhado, a barba por fazer, o jeito que sorri, a forma com que nos olha, o desenho da boca. Essas minúcias que, uma a uma, vão compondo um ser em sua totalidade.
Malhar o cérebro, por exemplo, é tão ou mais importante do que exercitar o peitoral na academia. Admiramos os homens inteligentes e respeitamos os espertos. Que fique claro, no entanto, que dispensamos os espertinhos e queremos distância dos espertalhões. O homem ideal sabe que caráter depois que desvia da rota custa a retomar o caminho de volta e por isso, não vacila.
Ele sabe como lidar com o humor feminino e seu astral é um convite ao riso. Conserva a meninice independente da idade. Compreende que TPM é capaz de nos deixar transtornadas, mas não leva o resultado das alterações hormonais tão a sério – porque além de conhecer, respeita a natureza feminina.
O homem ideal nutre uma paixão inexplicável. Todos os caras por quem me apaixonei tinham gostos e hobbies que os tornavam fascinantes. De cinema polonês a gastronomia. De arte barroca a skate, quadrinhos, música, livro, surf, games. O prazer e tesão que sentiam dava gosto e talvez o fetiche estivesse exatamente na paixão que alimentavam. Pessoas que se interessam tornam-se naturalmente interessantes. São mais vibrantes. É gente que usa a criatividade para se reinventar.
O homem ideal é atento e sabe quando queremos apenas que nos ouça e quando estamos precisando de um conselho. Devolvem chateações e resmungos com inusitados abraços de urso ou qualquer atitude besta – porque compreende que é mais frágil quem levanta a voz. Ele não tem necessidades de impressionar a todo o momento porque confia no trabalho que fez até então – e são exatamente a sua segurança e franqueza que impressionam.


Ele não tem o menor problema em reconhecer a própria fragilidade, em confessar os medos, em dizer que sente saudades e que prefere mesmo dormir agarrado – mesmo que você não goste de dividir o travesseiro. O homem ideal aceita dividir a conta para que você se sinta independente e oferece um jantar para que não esqueça gentilezas. Capta a hora de se aproximar e dar espaço. Aprendeu a cuidar de quem ama porque soube primeiro cuidar de si. E sabe que o amor soma ao ser dividido.
O homem ideal habita o imaginário feminino como alguém plenamente possível. Brinca com as idealizações de outrora. Disposto a dividir, faz com que toda mulher se sinta confortável sendo quem é. O homem ideal é alguém que cabe exatamente no nosso mundo – e faltando espaço, a gente ajusta. É alguém que nos lembra que mesmo imperfeitas podemos ser também a mulher ideal para alguém.

Gabriela Gomes

1 comentários:

  1. Gabriela,
    Gostei demais do blog. Me identifiquei muito!! Acho que texto bom é aquele que vc gostaria de ter escrito. Foi isso que senti lendo teus textos!! Aquelas coisas que vc pensa, pensa e alguém consegue belamente expressar através das palavras.
    Obrigada por esses bons momentos.
    Vou seguir acompanhando.

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