E daí que em determinado momento da
vida, depois de conhecer pessoas de todos os tipos, jeitos, gostos,
vontades, de passear por diferentes geografias e lugares, de participar
diariamente de novas histórias – ora como protagonistas, figurantes ou
mesmo antagonistas (porque não dá pra ser bacana em tempo integral),
depois de diversificar problemas, servir-se do melhor banquete, comer o
pão que o diabo amassou, socar a parede, as almofadas, dar murro em
ponta de faca, quebrar os pratos, chegamos à conclusão de que dá pra
levar as coisas de uma forma mais easy baby – pelo menos no que
diz respeito à nossa relação conosco – que se reflete na relação com os
outros. Mas talvez, seja preciso antes esgotar as possibilidades à
exaustão.
Depois dessa conversa que realizamos dia
após dia internamente, prestando-nos ao papel de único interlocutor:
que pergunta, responde, duvida, aprova ou censura os próprios
pensamentos – e que a esta altura já parecem muitos, concluímos que dá
pra levar tudo mais na boa – afinal de contas a nossa vida é pra gente.
Se não estivermos atentos a nós, corremos o risco de viver a vida em
função dos outros – o que dependendo da constância e intensidade é capaz
de significar o mesmo que viver de expectativas: um curto caminho para a
ansiedade e frustrações.
E daí que em determinado momento da vida
decidimos pegar leve por pura experiência. Ph.D.’s em chateações somos
curados pelos próprios aborrecimentos. É como o veneno
sendo o próprio
antídoto.
E daí que tudo bem dedicar-se a alguém
sem aguardar recompensas. Querer bem por simples empatia me parece
recompensa das boas. Vamos nos dando conta de que tudo certo se alguém
não consegue dizer que ama você e que a maior declaração já feita foi em
um momento de enorme fraqueza e franqueza ter deixado escapar: “que bom
que você está aqui”. O importante é o que você expressa.
E daí que tudo bem estar exercendo uma
profissão que não dá tanta grana assim. Afinal, há tantas outras vias
expressas de riqueza. Pode ser a satisfação pela função exercida, o
reconhecimento por si só, a vocação ou a paixão. Mas tudo bem também se
for a grana pela grana e um bater de cartão entediante. O seu trabalho é
pra você. Decida o que quer dele.
E daí que tudo certo se o parceiro já
teve outras pessoas, se fez sexo dos bons, experimentou posições que até
você – que não é ciumento, não gostaria de tomar conhecimento de
detalhes. Todo mundo tem um passado e lutar contra isso é perder tempo e
desperdiçar energia. E daí que você também começará a aceitar que as
coisas irão durar o tempo que couber a elas – e que você pode ser
responsável, mas não culpado por isso.
Se você começar a rezar o mesmo mantra
que recito agora vai constatar que melhor viver pra si junto aos outros,
do que em função dos outros. É mais produtivo aprender a gostar do que
se tem do que ficar brigando com a realidade.