- Eu não sei muito bem o que está se passando comigo.
- O que você está sentindo?
- Ando sofrendo de delicadezas...
- E como, por acaso, é sofrer de delicadezas?
- São arroubos diários de ternura. De repente, vai ficando tudo tão mais suave. A vida se torna mais possível. Eu me pego rindo à toa, sozinha, em público. Vontade imensa de abraçar o mundo. Ando abraçando até a mim! – sozinha no quarto que é pra não parecer louca, claro.
- Tá, para! Desde quando sutileza e alegria viraram sinônimos de sofrimento?
- É pela disponibilidade. Parece-me errado estar tão entregue assim.
- Preferia esconder-se da vida?
- E, se possível, das pessoas também.
- E então seria você com você mesma pelo resto dos tempos.
- Ah! Às vezes, acho que seja possível.
- Hipótese por hipótese, isso aí tá me cheirando a encrenca, digo, paixão.
- E se no lugar de paixão for amor?
- Também fodeu!
- Como a gente sabe se é paixão ou amor?
- A gente não sabe. O corpo é que intui.
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