Me chame do que quiser.
Mas no meio dessa esculhambação toda, de tantas propostas de reformas, eu só tenho conseguido pensar ultimamente em uma única: a reforma íntima.
Esse negócio de ir recolhendo pequenos escombros, varrendo os entulhos, tirar o pó, espantar os bichos, cuidar da pavimentação para proteger o que nos sustenta, encontrar pequenas delicadezas para decorar a casa.
Me chame do que quiser, que isso terá mais a ver com você do que comigo.
Mas por aqui a desordem tem estado, por vezes, tão grande que só firmando o dedo no interruptor de luz para se encontrar. Ainda que a escuridão ofereça pistas guiadas pela memória.
Reparou que a gente leva uma vida inteira se bagunçando?
E seguimos abrindo as janelas para arejar a saudade, plantando amor em vasinhos coloridos até os vasinhos tornarem-se pequeninhos demais para comportarem as raízes, as folhas e o florescer. Acontece que temos preferido contar com a chuva do que regar o afeto de próprio punho.
São chaves girando nas portas em sentidos horário e anti-horário. É um ressignificar sem fim de pessoas que vão passando - e, sabe lá Deus porquê, carregam cada vez mais pressa no caminhar.
Não tenho certeza se a gente um dia aprendeu, ou então, desaprendemos de vez a nos relacionarmos. Quem sabe melhorando a relação na ralação interior, a gente não involua. Se não conseguimor compromisso sério com o outro, que consigamos nos comprometer na melhora de quem somos.